quarta-feira, 14 de maio de 2008

O ACTOR DE ESCREVER - CANETA E PALABRA

A caneta:

Toda a energia do pensamento termina por se manifestar na pena de uma caneta. Claro, podemos aqui substituir esta palavra por esferográfica, teclado de computador, lápis, mas é verdade?
Voltemos ao tema: a palavra termina por condensar uma idéia.
O papel é apenas um suporte para esta idéia.
Mas a caneta permanecerá sempre com você, e é preciso saber como utilizá-la.
São necessários períodos de inação – uma caneta que sempre está escrevendo, termina por perder a consciência do que faz. Portanto, deixe-a repousar sempre que possível, e preocupe-se em viver e encontrar os seus amigos. Quando você volta ao oficio da escrita, encontrará uma caneta contente, com uma força intacta.
A caneta não tem consciência: ela é um prolongamento da mao e do desejo do escritor. Serve para destruir reputações, fazer sonhar, transmitir noticias, desenhar lindas frases de amor. Portanto, seja sempre claro em suas intenções.
A mão é o lugar onde todos os músculos do corpo, todas as intenções daquele que escreve, todo o esforço para dividir o que sente está concentrado. Não é apenas uma parte do seu braço, mas uma extensão do seu pensamento. Toque a sua caneta com o mesmo respeito que um violinista tem pelo seu instrumento.

A palavra:

A palavra é a intenção final de qualquer pessoa que deseja dividir algo com o seu semelhante.
William Blake dizia:
Tudo o que escrevemos é fruto da memória ou do desconhecido. Se eu tiver uma sugestão a dar, respeite o desconhecido, e busque nele a sua fonte de inspiração. As histórias e os fatos permanecem os mesmos, mas quando você abre uma porta no seu inconsciente, e deixa-se guiar pela inspiração, verá que a maneira de descrever o que viveu ou sonhou é sempre muito mais rica quando o seu inconsciente está guiando a caneta.
Cada palavra deixa em seu coração uma lembrança – e é a soma destas lembranças que formam as palaras, os parágrafos, os livros.
Palavras são flexíveis como a ponta da pena da sua caneta, e entendem os sinais do caminho. Frases não hesitam em mudar de curso quando descobrem, quando vislumbram uma oportunidade melhor.
Palavras têm a qualidade da água: contornam rochas adaptando-se ao leito do rio, às vezes transformam-se em lago até que a depressão esteja cheia e possa continuar o seu caminho.
Porque a palavra, quando escrita com sentimentos e alma, não esquece sue o seu destino é o oceano de um texto, e mais cedo ou mais tarde deverá chegar até ele.

‘Paulo Coelho’

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